terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Tribudo à Vênus

Artista plástico: Joedson Weslley

Ó Vênus!
Estrela D´alva contínua
da manhã e vespertina
a brilhar sempre
como uma jóia em meu céu.

Estrela do Pastor,
tua luz é tão extrema
que em mim causa ardor

Deusa na terra renascida,
revela-me pela tua escrita
sereia dos lábios de mel.

Sedutora Afrodite,
tuas palavras, acredite
provocam-me estranheza

um verdadeiro escarcéu
de disse e não-disse
misteriosas lacunas
deixadas num branco papel.

Teus cabelos são como redes
a emaranhar coração de vários “Eros”
embriagando-os
com o aroma etéreo...

Ó femme fatal!
Teu olhar é tão doce e sereno
oblíquo, sinuoso;
insinuante e sensual...

Eles velam tristes belezas
dúbias certezas
de uma deusa descomunal.

Ó deusa do amor e da beleza,
tens pena dos homens
que ainda não a tens
como única e verdadeira certeza!

Deusa Citereia,
teu olhar zanago me desnuda
Poetiza o ar,
minha companheira segura!
Comparo o brilho do teu olhar com o da musa lua

Coberta por uma espessa camada
de nuvens em turbilhão
Planeta irmão da Terra
És tu, Vênus !
A atingir em cheio
e a modificar todos os corações.

(Mamafrei)

Efervescência

Artista plástico: Joedson Weslley

Um filho, uma vida!
Um sopro de vida expelido nas narinas
Verbo entrando em todo o teu ser
Minha vida!...reduplicada e estúpida vida!
Dúbio e estranho olhar do par(d)ecer
Alimento-te com este sangue
Que jorra das raízes dos mamilos meus
E acarinho-te em uma de tuas faces
Com esta arma
Esta bendita arma
Que um dia
Ainda há de me vencer
Ao Iludir-me que serás só meu

Um filho, minha cria!
Que repousa sobre meu branco peito
E descansa suavemente
Sua terna mão sobre o meu sensível leito
Dorme bichinho...
Sonha que estais sorrindo
Que estou a fazer cosquinha
Em seu obscuro umbiguinho
E que somos mais amigos
Do que parecemos ser
Somos afinal, Mãe e Filho
Dor igual a esta
Jamais iremos novamente padecer
(Mamafrei)

sábado, 22 de novembro de 2008

Também



O drama jamais vestiu tão bem
o rosto pálido da agonia.
Taxado de maduro,
Amarelo-pardo
acuado e mudo
o drama tão bem
me enfastia e desnuda.
Quem diria...
Ele tão bem me deixa muda!
(Mamafrei)

Contra o tempo



O mundo tem pressa
tem sede e tem fome
O mundo tem ânsia
de chegar depois
mas algo me diz
algo me diz
que ele pode esperar
que ele pode esperar
por nós dois

(Mamafrei)

Inside


E viva à nossa negritude!
nossos avessos
negros segredos
Viva aos nossos obscuros!
traços de negros
quartos escuros
E viva a toda a nossa gente!
mente terrena
gente pequena
ente noturno
Viva ao nosso gélido medo!
que abafa
nos deixa mudos
translúcidos
(Mamafrei)

terça-feira, 11 de novembro de 2008

deusa cem nome (À Fabiana)



Tu que és uma deusa sem nome,
sem raízes, sem lembranças
Sem forma, sem sentidos...
Dizes por aí que não sei quem és,
mas que sabes bem que sou.

Diz-me em segredo quem és ao pé do ouvido
que te mostrarei de fato do que capaz eu sou!
Pois assim te definirei:
Descascando-a, estimando-a.
Sentindo o aroma de terra remexida
a fertilizar alma feminina
que desabrocha em flor.

Desta maneira respondo ao teu clamor!
Chamar-te-ei pelo nome agora
pois neste momento
sinto-me estimulada,
fertilizada, provocada,
instigada, incitada;
foi-me inspirada a inquietante dor.

Fiquei tentada a descobrir-te,
desvelar-te, decifrar-te.
Tu, tu que me dizes não possuir nome
Roubarei, pois, o nome de uma deusa
E a batizarei com ar, água, terra e fogo
advindo de uma velha centelha
que conota amor,
porém denotando vez ou outra
desgosto de uma tímida flor.

Gaia, Geia ou Gê?
Divindade nascida do Caos
caos advindo das profundezas humanas.
Somente pessoas sensíveis hão de percebê-lo.
Perceberão tamanha artimanha.
Tão atávico, tão anárquico...
caos profundo
entre o ser, parecer e o querer ser.

Chamar-te-ia mãe terra,
Gaia se assim me permitisse
Mas tenho sido desafiada, argüida
e por isso, não me convenço
na primeira cena ser vencida.

Pensando bem,
a ti cabe o nome de deusa Hera,
deusa ciumenta, irônica e mordaz;
orgulhosa, obstinada e rixosa,
deusa excelsa, longe de ser fugaz.

A partir de então fazes parte
do grupo de magníficas deusas
que compõem a minha memória:
Psique, Diana e agora tu, Hera!
deusa da terra nascida, “torta”.

Mostra-me teus olhos, que sou mortal
Protege com a pena do teu pavão
o território que faz parte de mim imortal
Eu, Vênus(Afrodite), sua arquiinimiga,
Faço-me agora sua mais nova amiga.

Somemos nossas grandezas
Multipliquemos nossas,
tão nossas profundezas,
a estreiteza de nossos ciúmes sem fim;
dividamos nossas fatídicas belezas
Segredos, enigmas,
Labirintos do eu-outro
em ti e em mim.
(Mamafrei)

sábado, 8 de novembro de 2008

Saleiro



Por quem me tomas?
Por Saudade!
Sal da idade
que solda de longe
bem perto de mim
Saudade!
Soul longe
soul perto
soul dentro
de mim e de ti
Apenas saudades
Agridoces saudades
que escorregam meu eu
para bem pertinho de ti!
Saudade do severo não
querendo transformar-se
no jocoso sim
Saudade!
Saúde da idade
saúda a ida do meu eu em mim
(Mamafrei)

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Aos vivos Mortos!



A Você,
espectro de redenção
fantasma que vive em comunhão
destroços a emaranhar
solidificações

A Você,
sombra da verdade
fulguras da maldade
reflexos de mim e de minhas
internalizações

A Você,
que finge viver a cada dia
mas perece de uma eterna
solidão vazia.
Não me diga em harmonia
que carece de alguém
para indicar-lhe os caminhos do coração

A Você,
simplesmente e exatamente
a você,
que chora pelos mortos Vivos
vive Morto e ainda sanciona
a vida através de vazias nominações

A você,
que se “diverte”
se embriaga
mas em nada se
compadece.
Pensa apenas que vive
enquanto seu eu desaparece

A você,
dedico meus anos de vivo Morto
Aos mortos Vivos,
dedico
meu respeito e gratidão
(Mamafrei)

terça-feira, 28 de outubro de 2008

De Aço e de Flores


Sou uma mulher
De aço e de flores
Vivo a padecer
De desamores
Em minha vida
É constante
Os dissabores;
Em meus sonhos
Há tantos enganos,
Fatídicos horrores...
Mas nem por isso
Desisto de sonhar;
Em minha vida
Há mais aço do que flores
Há mais ranço que sabores
Há mais saudade que presença
Mas não desistirei jamais de amar.
Ah se todo aço tivesse aroma de flores...
Se todas as flores fossem fortes, persistentes
E roxas como o odor e o gosto das dores...
Se fossemos flexíveis para nos envergar
Se fossemos pré-destinados a nos amar...
De aço faríamos o nosso amor
Da delicadeza das flores
Fá-lo-íamos sustentar.

(Mamafrei)

O dilatar da pupila


Poeticamente
as janelas de tua alma
abrem-se para mim.
Eis um convite
para que deixemos de mentir.

Profundamente
delas saem raios de verdade;
brilhos eternos que mexem
com toda vaidade,
esperança de se reconhecer em mim.

Maré alta
lua e voz baixa
Olhar crescente, cheio e exigente
Olhar de loba
Pensamentos que serpenteiam
deixam seca a boca.

Instantaneamente
Um olhar denuncia
Entrega-se
E faz se entregar

Luz, câmera, ação!
entorpecentes de uma paixão.
Doutor, oftalmologista
liquido a dilatar meu coração
Olhares penetrantes
denotando extrema sensação...

(Mamafrei)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Mudança iminente


Pronto!
Agora já podes me odiar
Estou à sombra de um outro
Decidida a me ocultar

Não és mais meu objeto de estudo a finco
Sou agora ânsia de outros olhos
Desejo de outras mãos e braços a me tocar

Não respiro mais o mesmo ar que tu respiras
Não quero mais respirar
Nem suspiro a mesma ânsia que te devora
Não quero mais tragar o ar

Era mesmo isso que querias?
Exaurir-me do tempo que compunha tua memória,
Excluir-me da luz do dia, da tua vida?

Meus pensamentos pertencem a outro neste momento
Meus cuidados, gotos e entalos
Só poderei da-los com o tempo

E a poesia?
A poesia que tanto desenfastiou teus dias
Pede agora novo arrego
Pede agora pra sair
Com o sopro do vento
E preencher um novo cativeiro
Que necessita ser manchado
Com ácida nódoa
Que não se apaga com o tempo.
(Mamafrei)

Raios e trovoes...flores Rosas e espinhos.


Mediante tantas incertezas
Só sinto setas insertas
Cravadas em minha cegueira

Que gagueja
Que fraqueja
E rasteja

E a doce ânsia me anula
Me devora
Me engasga
Me engole
Me enturva

Não sei mais o teu motivo
Objeto fino de desilusão
Não sei mais por que me iludo
Pra chegar ao cerne do teu coração

Basta!
Peço demissão.
Que patrão mais malcriado,
Amuado
Que cliente exigente,
Chato
Quero um doutor em solução.
(Mamafrei)


domingo, 19 de outubro de 2008

Sou ...apenas Sou!

Sou como uma fruta
Que é amadurecida
Pouco a pouco
Ao soar de uma
Lenta hora.
Encruada com os resquícios da noite
Ácida como a efervescência de um longo dia
E doce como o entremez de uma vida.

Sou como uma Rosa entre agudos espinhos
Delicadamente me vejo sorrindo
E bailando com o uivo do vento
Despetalando caminhos
Brincando de ser mamulengo
Tentando enganar o impiedoso tempo.

(Mamafrei)

sábado, 11 de outubro de 2008

¼ da Vênus

Em meu quarto
Não há mais janelas
Mas o vento insiste em sobrar pela fechadura
Que agora faz o papel delas

Nele há agora duas camas
Mas apenas uma vazia;
Um guarda-roupa com portas lascadas
Roupas e panos velhos em desarmonia

No alto,
Uma telha de vidro
Permite-me ver
Toda noite
A Luz da Noite
E todo dia
A Luz do Dia

Nas paredes,
Tornos enferrujados;
Traças em seus casulos.
Aranhas tecendo muros

No chão,
Pares de chinelos gastos
Botas,
Carrinhos e
Estilhaços;
Marcas de passos seguros
Necessitando pisar em outros mundos.
(mamafrei)

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Marcela

Ensaios... esboços...

De Psique à Vênus...

De Vênus à Psique!


Mar e cela
Mar ia quase sendo sem ela
Mas o umbigo fora extirpado dela
Cortado naquele exato momento
Guardado em uma cela
À força, sem demora, sem ela


Mar e cela
Os dois querendo
Ser eu por um único momento
Sopro o vento com meus tormentos
Arranho o tempo com minha memória,
Só por isso me convenço.

Mar e cela
Vivo querendo saber
Qual é o que mais amarela
Irá amar ela, amar ela ia.
Guardar e libertar
Tocar os finos lábios do dia

Mar

Revolto...
Ondas que embriagam
E procuram sugar meu ver
Doces desejos que o sol doura.

Voraz...
Idas e vindas do meu ser
Esta sou eu, apenas querendo
Mar e cela ser
Eu como jamais em outrora.

Sedutor...
Um, liberdade ilusória
Outra, prisão libertadora
Que me esfera e está
Sempre à minha espera

Cela

Ser
Má Cela, cativeiro
De um amor só meu
Estupidamente eu
Ó vida que me desmantela.

Cancela
Porteiras entreabertas
Imagética do ser eu
Ao fugir pelas janelas
Dos olhos teus.

Prisão
Solidão diante da multidão
Execução do meu eu plural
Indo ao encontro da redenção
Escondida em algum curral

Mar e cela
Selando feridas
Doídas do meu eu
Martelando palavras
Transformadas em nós
Desatados e amarrados em vós.

(Mamafrei)







terça-feira, 7 de outubro de 2008

Oscilações do Mar...

Já passou?
- Ainda não passou...
Quando vai passar?
Já devia ter passado...
Ainda amo.
- Nunca deixarei de amar.
E agora?
- Agora...
Quando,
Onde,
Que horas,
Não importa!
Quando o amor não mais tiver portas
Cancelas a nos cancelar
Quando esse amor criar asas
Nem mesmo o céu será sua estrada
Viverá sendo impulsionado pra cima
Erguido a cada degrau de uma escada
Já criou raízes em seu caminho de terra
E por isso, precisa expandir-se no universo de etérrnia.
Necessita andar sozinho,
Segurado à mão
Necessita de cuidados,
Caricias
Necessita de verdades,
Quiçá malícias...
Mas exige que seja de coração.
(Mamafrei)

Pardos ais

Pobres pardais,
Passarinhos.
Tão discriminados
Enxotados, bichinhos...
Mas são eles que todos os dias
Cantam em nossos quintais.
No fio de alta tensão
Um por um
Forma um arranjo descomunal
Verdadeiras notas musicais
Que se fossemos levar a serio
Causariam-nos tamanha comoção.
Pardais,
Ordinários passarinhos
Que enfeitam nossas árvores
Despertam nossos dias com seus gritinhos
E mais uma vez com sua farra
Anunciam mais um anoitecer
Ah pardais...
O diminutivo de todos os Passarinhos
Queria pelo menos um dia
Ser como você
Ter ao menos um ninho.
(Mamafrei)

Sequiosa súplica ( À doce Ceci...)

Chove meu sertão,
Chove!
Sei que precisas desaguar
Umedece essa terra árida
Que peleja um novo tempo anunciar.

Chove em meu terreiro,
Chove!
Faz germinar o meu quintal
Lança fertilidade o tempo inteiro
Tira-me desse tempo descomunal.

Chove doce amiga
Chove!
Água límpida,
Borra o chão da hipocrisia
Condena qualquer um que retalia
Desmereça a solidão.

Chove ser tão doído
Chove!
Deságua, transborda
Corre pro mar etéreo
Das infinitas paixões...

Chove,
Ouve minha súplica!
...
O raio feriu a nuvem
E o céu pôs-se a chorar
O trovão estalou meus tímpanos
Meu triste eu ainda ousa falar:
Uma criança que acaba de traquinar
Cansou...
Suspira: ufa!
O amor por mim passou.
O amor por mim vive a passar...
(Mamafrei)

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Riso torto da lua


Seco ao vento...
Ao tempo.
Esganiço!
Afogo-me em meus solitários sentidos
Não tenho por quem gritar
Só me resta silenciar...
Por isso mordo e arranho o tempo!
O amor que ora fora cura
É-me veneno agora,
Nódoa crua da lua.
Que toda noite me desnuda
E morro a cada lembrança
Minuto que compõe a hora
Que me enlaça e me apavora.

(Mamafrei)

Sob o olhar da Lua

Artista plástica: Maria dos Anjos
À luz de algum dia
Ainda hei de aprender
A degustar o vinho
Das volúpias tortas;
A dançar conforme a música
Das lentas horas.
Crescerei junto à lua crescente
E preencher-me-ei de amor,
Só de amor...
Jamais minguarei
Ou pedirei de volta o que de agrado dei.
Renovar-me-ei a cada soar
De uma esperada hora.
Serei reminiscências de tua memória
A corroer todo o teu ser
Serei o que mais te apavora.
Porque perdi-me nos cuidados teus
Adormeci nas ternuras tuas
E hoje não passo de uma branca
E límpida lacuna
Diante do olhar penetrante da lua.
(Mamafrei)

sábado, 20 de setembro de 2008

Flor de Maracujá


Exala de mim aroma amarelo
Essência silvestre roubada de um perigoso jardim
Envolto em flor e martelo
Inebria-me cheiro etéreo
Deixa-me também sair dessas fissuras
Enxerta-me com um pouco
De vosso amor e loucuras
Deixa-me auferir de ti
Intenso odor e sabor de amor
Marmóreo e cristalino,
Paradoxos da cor escarlate e púrpura
Malicia e espúria,
Exalam de sua espuma
Amoreando...
Amor à parte
A partir de um bom dia
Ócio e ossos do oficio
De pretendida à preterida
Oco ovo, ovo ocO
Onomautopia de minha vida.
(Mamafrei)

domingo, 14 de setembro de 2008

Desa(r)mada

Fui desa(l)mada
No acontecer de
Uma madrugada
repentina
nublada
roubada
expelida
Assim como o aroma de uma flor em plena enxurrada
Fui deixada à margem da esquina da vida
À avenida das lamentações
Lampejos e discussões
Choro por dentro
Implodo
Morro

(Mamafrei)

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Tentarão

Sempre tentarão
Dizer o indizível
Respeitar o indigno
Crer só no que é crível.

Sempre tentarão
Pôr cabrestos em minha visão
Freios em minha língua
Velocidade em minha lentidão.

Sempre tentarão
Curpir-me nos ouvidos
Pintar-me além do umbigo
Ceiar-me os inimigos.

Só tentarão...

(Mamafrei)

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Hesitações

Artista plástico: Naldinho Moura

Ao entrar no labirinto do saber
Vi tua imagem refletida
E a mesma viu a minha
Fingimos não nos (re)conhecer...

No automóvel da vida,
Vi teus pés se emparelharem aos meus
Fazendo um V
Quase os senti
Menti pra mim
Senti-os nos meus.

Restou-me apenas o breve tocar de tua
Pequena e suave contramão
Quente, tímida,
Perigosa, nua...
Quase não a entregaste.
Onde estará a “sede” do amor
Que me negas com a mão tua?

(Mamafrei)

FONTE

Possuo um amor insólito
T
O
R
T

O
D S G T D
E A E I A O
C O D I F I C A D O
FONTIFICADO
Que vive esmolando gratidão
Ele às vezes é chato
Carente, coitado
Padece de solidão
Desistir foi seu único ato falho
Provocando-me vermelha rouquidão

(Mamafrei)

domingo, 7 de setembro de 2008

Selvageria

Selvagem,
Selvagem ria...
Ria da sua própria cavalgadura...
con(sumindo) tempo,
Espaço,
Estradas.
Desfilando sobre suas próprias arma(d)ilhas.
Corre,
Corre... cavalga.
Cava alguma coisa que te enlaça.
(Mamafrei)


quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Mulher ao espelho

Não.
Não quero mais que me olhes
Com esses olhos refr(atores)
Despudores
Devoradores
Cheios de dores.
De hoje em diante
Dar-te-ei as costas
Simplesmente assim
E permanecerei
Deste jeito
Indiferente
Impávida
Colossal.
Não mais terei rosto
Para que não me reconheças mal
(Mamafrei)

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Lapidação

Artista plástico : Ricardo

O amor conseguiu arranhar-me
o que tenho de mais duro
e ao mesmo tempo maleável,
minh´alma.
Ele é um diamante
que corta fino e devagarinho,
profundo...
Ele não tem pressa.
É capaz de friccionar num mesmo lugar
até que a eternidade
venha e tome seu finito lugar.
Por isso o diluo dentro de mim
e o dou para você beber,
embriaguemos deste cristal
altamente duro
que amolece a mim e a você.
(Mamfrei)


La bouche


Cicatrizes
Marcas visíveis
Vivendo uma vida em palcos
De dores
Dissabores,
Frios e arrepios
Rios transbordando de amores.
Atrizes de um ato falho,
Retardatário,
Mergulhadas em sabores de uma Boca,
Principio do verbo pro(ferido)
nítido
Sopro de vida rendido
Fruta amadurecida com gosto doce e maciez do amor
(Mamafrei)

À poesia

Sede meu entalo
Meu goto
Meu engasgo
Meu sufoco

Sede horas a fio
Dez a fio...
Ser a enganar minha solidão.

Sede melodia
Melodrama
Motivo de minha
Melancolia
Que derrama
E clama...
Apenas por um bom dia.

Sede angústia
A embrulhar meus
Desencontros

Sede descontrole
A descompassar
Meus enganos

Reviravolta em
Minh´alma
A se fragmentar...

(Mamafrei)

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O nome da Rosa

Quadro de Naldinho Moura

NEGA, NINA, NINOCA.
De que nome deverei chamá-la Eu
Narizinho, Mama, Índia,
Roberta, Renata, Valéria...
Mamafrei no balanço dos meus eus.
Manuela, Márcia, Pedrita!
Pedra bruta, Rosa rochosa
Vênus!
Eu donna dos meus eus.

(Mamafrei)


Calabouços




Ontem foram os lábios
Hoje, os olhos.
Não sou Capitu
A ressacar, tragar o teu olhar
Mas alguém os capitou
Capiturou meu seio, meu cerne,
Recapitulou meu ser
Ousou falar mais do que pretendia penetrar
Mais do pretendia me acomodar e adormecer...
(Mamafrei)

Outdoor

Se tu me amas, grites bem alto
Até onde eu não possa mais te ouvir
Grites do alto de uma montanha
Ou do último andar de um arranha-céu.
Inquietes a todos, até mesmos os inocentes passarinhos
Que engenhosamente fazem seus ninhos
Mas grites, grites somente para mim!
Se me queres, se amas só a mim....
Tens de ser urgente, meu querido
Que o tempo urge, e a vida mais ainda.
(Mamafrei)

Todos os meus ismos

Quadro de Naldinho Moura

O bebo todas os dias
O aspiro todas as manhãs
O trago todas as tardes
O injeto igual bicho na maçã

Embriago-me, entorpeço.
Alucino-me, enlouqueço.
Vivo! Esqueço!
Morro! Adormeço!
Iludo-me, me converto.
Eis me aqui pelo avesso!

(Mamafrei)


sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Luamaré

I
Ah, maldita regra, período, menstruação!
É a força das águas que me enchem
E preenchem com maresia meu coração
É o domínio sutil de cada maré
Que mexe, remexe meu ventre como barca
Rumo ao encontro da Santa Fé
(Re) nova –me (Pré) enche-me,
(Urge)nte e me inunda!
Quase enlouquece-me esta força una
Inócuas fases da lua...
Sou dominada pela domínio em ação.
II
Menstruei a tarde
Abortei o dia
Escorro sangue da noite
Teço brisa de ventania.
Aborto-me todo dia
Sofro cólicas flutuantes e frias
Que escaldam o meu ser
Moldando-me como uma vírgula.
(Mamafrei)

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Ca va(l)gando




Vivo a percorrer pelos labirintos da escuridão
e cavalgo noite adentro pelos gritos e gemidos
do nosso silêncio baldio recheado de solidão.
Pretendo, pois, um dia penetrar
nas finas camadas do dia
e esconder-me-ei ali, longe de tudo e de todos.
E numa oportuna fresta do tempo
amar-te-ei sem medidas
apenas com um leve toque de melancolia,
sem medo, sem pressa, sem dor,
pois estaremos anestesiados
e ligeiramente adormecidos
com a velha porção do amor.


(Mamafrei)

Um brinde ao amor!


Meus pensamentos nublaram
Coração divagou, tímido fechou
Sinto-me vento de tempestades
Triste partida de um grande amor
Eis que se deu o balé das árvores
Imparciais, ao léu, o vento as aliciou
Borboleta amarela à mercê do vento
Uma simples brisa a dilacerou
Ouço o uivo mudo do mundo
O silêncio (in)significante
De uma cortante vida
Cheia de dissabor
Terror
Horror
Medo
Agonia
Grito ao giro de uma turbina

(Mamafrei)

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Cale-se ser

Imprimirei minhas digitais em teu corpo
Que posa a todo instante
como se fosse uma foto
estampada na estante
sempre tão sóbrio
sério, ébrio
convidativo
rígido
aberto
amigo
exalando clima etéreo
(Mamafrei)

domingo, 24 de agosto de 2008

Sossego



Sou cego
E sego o que me cega
A Sós, sego o Eu que cega
Cego e ando , ando cego...
Só cego me encaminha
Só cego me acompanha
sossegue
Mesmo cego, amo!
Amo mesmo seguindo o amo.
Quero amado ser
Amadurecer
Mas só amo e adoeço
Amadureço
Quando há de vir meu sossegado ser?
(Mamafrei)

Agostos



Agosto no turno
A gosto de quem?
Agosto de uno
Desgosto só meu e de mais ninguém.
Ah... gosto sim de quebrar toda
E qualquer absurda retalia
Como as intermináveis horas
Que vejo passar lentamente
Por mim todos os dias.
Porque há gosto pra tudo...
Mas o tempo o desfaz
Com o descaramento do absurdo
Cego, surdo e mudo
Afinal, tudo é tão fugaz!
Ao gosto de outubro
E de outros dias de maio
Vou cortando meus finitos ais.
(Mamafrei)

Perfume do Adeus e Réplica à “Perfume do Adeus” (Leandro Dumont)



Partir é dizer-te adeus
É dor que não tem fim
São lágrimas eternas
Que choram dentro de mim

Partir são velas ao mar
Que o vento leva enfim
É o firmamento azul
Do oceano sem fim

São mãos perdidas ao ar
Braços em volta de si
Olhos perdidos ao longe
Sem a beleza de olhar

É saudade imanente
De um rosto eterno
De um riso permanente
De um corpo fraterno

É deixar para trás
De caminhar ao lado
Sentar e ouvir com atenção
Sentir leve o pulsar


Quão devaneio em partir
Mas tudo acaba assim:
Adeus para quem fica
E no peito uma imagem de ti.
(Leandro Dumont)



Ah!... Tão aromático quanto a vida é o adeus
E Rosa sempre o fez,
Rosa sempre o deixou.
Mistura de uma Paixão vivida
Ao pálido Branco da próxima
Página da vida
Que se extingue dizendo ironicamente:
É, o dia acabou...
(Mamafrei)

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Nós (es)



Nada é meu, tudo é nosso
Nunca é meu, sempre é vosso
Não sou eu, somos nós
Me and you , Us!
O eu coletivo possuindo voz.


(Mamafrei)

Vingador



Vingo o orgulho ferido
Vingo o luto doido
Vingo a frieza sentida
Vingo a dureza maldita
Vingo o estupro cerebral
Vingo o estudo matinal
Vingo a fineza escolhida
Vingo a esperteza intrometida
Vingo quase tudo
Mas em mim vinga a dor.
(Mamafrei)

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Tristes belezas



Por que há beleza
Na tristeza?
Por que há tristeza
Em certa beleza?
Hoje embelezei-me
Com a tristeza
E triste meu semblante
Insistiu em ficar...
Penteei os cabelos
Da vaidade
E os prendi por
Pura maldade.
Delineei de preto as janelas
De minh´alma
E sobre as pálpebras
Transparentes de
Seu triste templo
Feri com cinza
Meu próprio ocultar
De sangue enrubesci
Minhas duas faces
E nos lábios fiz sangrar
O mais desgosto amor
Pronto! Uma rosa
Vermelha
Fatalmente desabrochou.
(Mamafrei)

domingo, 17 de agosto de 2008

A outra face



És meu espelho, minha poesia distorcida
O poema visual que jamais decifrarei
Minha outra face, minha amiga
Desejo, violência e ternurinha
Turbulência que me tranqüiliza.

És minha alma gêmea
Somos duas frutas antes do tempo colhidas
Esperando desesperadamente o amadurecimento
De nossas intrigantes e fatídicas vidas.
Seres querendo ser amadas, filhas!

És minha poesia, a mais escorregadia
O verso crepuscular de um amanhecer
Somos irmãs, primas, mas não tias
Esta sou eu sozinha e adoro o ser
Quando anoitece e ainda consigo dizer bom dia!

És sempre a expansão de todo o meu ser
Que me consome e some com meu entristecer
Somos. De frente pra trás e de trás pra frente
Gente querendo eternamente ser
Envolvida em vida, envolvente no ente
Notada, ouvida, experimentada, sentida

És o labirinto que insisto em percorrer
O mosaico que falta a parte de mim em você
Esfinge que me olha e devora
Mastiga, rumina e regurgita
Mesmo quando me manda ir embora querendo dizer: fica!

És o verbo em ação, em constante mutação
Ferida a supurar no interior do meu peito
Somos esperança numa fresta do tempo
Fenda aberta ao calor do momento
Gota a escorrer na janela
A confundir-se com lágrima de uma vela.

És o destino a encarar-me bem de perto
Gosto suave de redenção
Somos a vida vivida em um duplo risco
Com medo da eterna escuridão
Mudança de tempo, olho do furacão

(Mamafrei)

sábado, 16 de agosto de 2008

Mosaico


Sou múltipla, facetada
Plural, fragmentada
Espelho que reflete e refrata
Tentando recolher a todo instante
Os cacos dos meus infinitos “eus”
Que (a)parecem perdidos pela estrada.

Mais que bem querer...




Deixa-me ser tua amiga especial
Estigma de tua vida mais vivida
A embalar teus cabelos num espiral
Deixa-me ser tua alma amiga
Deixa-me ser algo estanque
No sequioso coração teu
Provocar-te friosinho na barriga
Isso nunca haverá de ser mais trivial, amor meu
Pois sinto-me transitar do centro à periferia
Ocupar lugar inusitado em seu coração
Isso sim eu preferiria
Todavia, a caneta da vida insiste em pintar-me as mãos
De azul, preto e vermelho
E às vezes pego-me a rir da minha própria imagem no espelho
Lembrando-me o quanto fui querida e ridícula
Roubada, adivinhada, surpreendida... lida!
Deixa-me cantar-te a mais triste ária
A trágica ode do meu anoitecer
Jura secreta do amor meu
Mais que meu bem querer...
Deixa-me continuar a ler os teus caminhos
Ser leitura obrigatória do seu Id
Você que é minha idêntica idade
Mas que não passou de uma estéril idade
Sincretismo emancipado do meu ser
Ressonância que oscila em minha melodia
Deixa-me,pois, estar ao menos ao teu pé
Nem que seja no calo do teu calcanhar...
Pois sinto-me como uma Vênus manca
Vênus coxa, quase muda
Vestígio de um lindo amanhecer
Dai-me ao menos tua face para eu beijar
E dar-te-ei a minha para bater
Porque o bem que se quis não é mais o querido
Não passou de uma mentira fugaz
Escondida por detrás de tantos ais
Lembranças foram apagadas
Promessas esquecidas
Palavras voltadas atrás
Somos, portanto, apenas sombra desta alma que nos fala e cala.
E quando esta sombra desaparecer com o sinuoso vento,
Esta penumbra de alma
Procurará uma outra morada
Para nublar e entardecer
Meus sonhos e planos se dissolverão com o corrosivo tempo
Quando tua imagem e voz não mais me causar tamanha dor
Não te esqueças de que somos aroma indefinível da vida
E que vez ou outra fingimos saber da arte de a®mar pra batalha do amor vencer.
(Mamafrei)

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Beija-flor



Olhar enigmático, sorriso sempre indecifrável...
Face em retângulo, mas onde está sua outra metade
A outra que podemos ver em apenas curtos instantes?
Rosa vermelha a tocar os finos lábios do dia
A velar somente a dor, a dor de ter que beijar mais um dia
Sem a sua outra face, a bandida... a escolhida
Que se faz noite obscura, velada,
Selada ao toque suave da rubra Rosa
Que entala, enfada, não fala, enfastia
Emudece com sua púrpura hemorragia,
E faz velar o olhar taciturno em agonia.
Quão misterioso é esse beijar a flor
Sentindo aroma da noite fria.
Quão embriagante é o perfume do amor
Que se fez flor e rosa num desconcertante dia.
(Mamafrei)

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

A Liberdade é azul




Abro as asas desta liberta idade
Liberto a idade que existe em mim
Liberto-me desta calamidade
E já não sou eu quem sai de mim.

Iço vôo e procuro outro cativeiro
Ânsias de viver numa latência sem fim.
Liberto-me deste corpo estrangeiro
Não sou eu, mas outro que fala por mim.

Pairo sobre as nuvens deste mistério
Exalo aroma sério de um jasmim
Estou inserta neste céu etéreo
Procurando afinal, a causa do que jaz em mim.

(Mamafrei)


O (Re)nascimento de todas as Vênus




Sai desta concha
Que te aprisiona
Nasce da espuma,
Nada! Voa! Nua
Flutua feito pluma
Ávida, sedenta
Bianca, branca
Igual lua a encantar
Desejos de um dúbio olhar
A enfeitiçar inocentes cordeiros
Braços, cabelos, tornozelos...
Seduzindo todo o pensar
Escondendo o peso
E a transparência que
Sua natureza levemente
Se dispõe a desvelar
Não temas o Sangue alaranjado
Vermelho e quente
De seus cabelos
De seus desejos
Igual lavas de um vulcão
Que corre de cima pra baixo
Ao vento procurando direção
Sede assim também da terra
E não somente do m(ar)
Sede raiz a penetrar
Nesta terra que nenhum outro
Ousou penetrar
Deixa-me te alcançar
Cavar os segredos teus
Renasço de cada mistério
Que transborda do
Enigmático, jocoso
Sorriso e olhar seu.

(Mamafrei)