sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Luamaré

I
Ah, maldita regra, período, menstruação!
É a força das águas que me enchem
E preenchem com maresia meu coração
É o domínio sutil de cada maré
Que mexe, remexe meu ventre como barca
Rumo ao encontro da Santa Fé
(Re) nova –me (Pré) enche-me,
(Urge)nte e me inunda!
Quase enlouquece-me esta força una
Inócuas fases da lua...
Sou dominada pela domínio em ação.
II
Menstruei a tarde
Abortei o dia
Escorro sangue da noite
Teço brisa de ventania.
Aborto-me todo dia
Sofro cólicas flutuantes e frias
Que escaldam o meu ser
Moldando-me como uma vírgula.
(Mamafrei)

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Ca va(l)gando




Vivo a percorrer pelos labirintos da escuridão
e cavalgo noite adentro pelos gritos e gemidos
do nosso silêncio baldio recheado de solidão.
Pretendo, pois, um dia penetrar
nas finas camadas do dia
e esconder-me-ei ali, longe de tudo e de todos.
E numa oportuna fresta do tempo
amar-te-ei sem medidas
apenas com um leve toque de melancolia,
sem medo, sem pressa, sem dor,
pois estaremos anestesiados
e ligeiramente adormecidos
com a velha porção do amor.


(Mamafrei)

Um brinde ao amor!


Meus pensamentos nublaram
Coração divagou, tímido fechou
Sinto-me vento de tempestades
Triste partida de um grande amor
Eis que se deu o balé das árvores
Imparciais, ao léu, o vento as aliciou
Borboleta amarela à mercê do vento
Uma simples brisa a dilacerou
Ouço o uivo mudo do mundo
O silêncio (in)significante
De uma cortante vida
Cheia de dissabor
Terror
Horror
Medo
Agonia
Grito ao giro de uma turbina

(Mamafrei)

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Cale-se ser

Imprimirei minhas digitais em teu corpo
Que posa a todo instante
como se fosse uma foto
estampada na estante
sempre tão sóbrio
sério, ébrio
convidativo
rígido
aberto
amigo
exalando clima etéreo
(Mamafrei)

domingo, 24 de agosto de 2008

Sossego



Sou cego
E sego o que me cega
A Sós, sego o Eu que cega
Cego e ando , ando cego...
Só cego me encaminha
Só cego me acompanha
sossegue
Mesmo cego, amo!
Amo mesmo seguindo o amo.
Quero amado ser
Amadurecer
Mas só amo e adoeço
Amadureço
Quando há de vir meu sossegado ser?
(Mamafrei)

Agostos



Agosto no turno
A gosto de quem?
Agosto de uno
Desgosto só meu e de mais ninguém.
Ah... gosto sim de quebrar toda
E qualquer absurda retalia
Como as intermináveis horas
Que vejo passar lentamente
Por mim todos os dias.
Porque há gosto pra tudo...
Mas o tempo o desfaz
Com o descaramento do absurdo
Cego, surdo e mudo
Afinal, tudo é tão fugaz!
Ao gosto de outubro
E de outros dias de maio
Vou cortando meus finitos ais.
(Mamafrei)

Perfume do Adeus e Réplica à “Perfume do Adeus” (Leandro Dumont)



Partir é dizer-te adeus
É dor que não tem fim
São lágrimas eternas
Que choram dentro de mim

Partir são velas ao mar
Que o vento leva enfim
É o firmamento azul
Do oceano sem fim

São mãos perdidas ao ar
Braços em volta de si
Olhos perdidos ao longe
Sem a beleza de olhar

É saudade imanente
De um rosto eterno
De um riso permanente
De um corpo fraterno

É deixar para trás
De caminhar ao lado
Sentar e ouvir com atenção
Sentir leve o pulsar


Quão devaneio em partir
Mas tudo acaba assim:
Adeus para quem fica
E no peito uma imagem de ti.
(Leandro Dumont)



Ah!... Tão aromático quanto a vida é o adeus
E Rosa sempre o fez,
Rosa sempre o deixou.
Mistura de uma Paixão vivida
Ao pálido Branco da próxima
Página da vida
Que se extingue dizendo ironicamente:
É, o dia acabou...
(Mamafrei)

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Nós (es)



Nada é meu, tudo é nosso
Nunca é meu, sempre é vosso
Não sou eu, somos nós
Me and you , Us!
O eu coletivo possuindo voz.


(Mamafrei)

Vingador



Vingo o orgulho ferido
Vingo o luto doido
Vingo a frieza sentida
Vingo a dureza maldita
Vingo o estupro cerebral
Vingo o estudo matinal
Vingo a fineza escolhida
Vingo a esperteza intrometida
Vingo quase tudo
Mas em mim vinga a dor.
(Mamafrei)

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Tristes belezas



Por que há beleza
Na tristeza?
Por que há tristeza
Em certa beleza?
Hoje embelezei-me
Com a tristeza
E triste meu semblante
Insistiu em ficar...
Penteei os cabelos
Da vaidade
E os prendi por
Pura maldade.
Delineei de preto as janelas
De minh´alma
E sobre as pálpebras
Transparentes de
Seu triste templo
Feri com cinza
Meu próprio ocultar
De sangue enrubesci
Minhas duas faces
E nos lábios fiz sangrar
O mais desgosto amor
Pronto! Uma rosa
Vermelha
Fatalmente desabrochou.
(Mamafrei)

domingo, 17 de agosto de 2008

A outra face



És meu espelho, minha poesia distorcida
O poema visual que jamais decifrarei
Minha outra face, minha amiga
Desejo, violência e ternurinha
Turbulência que me tranqüiliza.

És minha alma gêmea
Somos duas frutas antes do tempo colhidas
Esperando desesperadamente o amadurecimento
De nossas intrigantes e fatídicas vidas.
Seres querendo ser amadas, filhas!

És minha poesia, a mais escorregadia
O verso crepuscular de um amanhecer
Somos irmãs, primas, mas não tias
Esta sou eu sozinha e adoro o ser
Quando anoitece e ainda consigo dizer bom dia!

És sempre a expansão de todo o meu ser
Que me consome e some com meu entristecer
Somos. De frente pra trás e de trás pra frente
Gente querendo eternamente ser
Envolvida em vida, envolvente no ente
Notada, ouvida, experimentada, sentida

És o labirinto que insisto em percorrer
O mosaico que falta a parte de mim em você
Esfinge que me olha e devora
Mastiga, rumina e regurgita
Mesmo quando me manda ir embora querendo dizer: fica!

És o verbo em ação, em constante mutação
Ferida a supurar no interior do meu peito
Somos esperança numa fresta do tempo
Fenda aberta ao calor do momento
Gota a escorrer na janela
A confundir-se com lágrima de uma vela.

És o destino a encarar-me bem de perto
Gosto suave de redenção
Somos a vida vivida em um duplo risco
Com medo da eterna escuridão
Mudança de tempo, olho do furacão

(Mamafrei)

sábado, 16 de agosto de 2008

Mosaico


Sou múltipla, facetada
Plural, fragmentada
Espelho que reflete e refrata
Tentando recolher a todo instante
Os cacos dos meus infinitos “eus”
Que (a)parecem perdidos pela estrada.

Mais que bem querer...




Deixa-me ser tua amiga especial
Estigma de tua vida mais vivida
A embalar teus cabelos num espiral
Deixa-me ser tua alma amiga
Deixa-me ser algo estanque
No sequioso coração teu
Provocar-te friosinho na barriga
Isso nunca haverá de ser mais trivial, amor meu
Pois sinto-me transitar do centro à periferia
Ocupar lugar inusitado em seu coração
Isso sim eu preferiria
Todavia, a caneta da vida insiste em pintar-me as mãos
De azul, preto e vermelho
E às vezes pego-me a rir da minha própria imagem no espelho
Lembrando-me o quanto fui querida e ridícula
Roubada, adivinhada, surpreendida... lida!
Deixa-me cantar-te a mais triste ária
A trágica ode do meu anoitecer
Jura secreta do amor meu
Mais que meu bem querer...
Deixa-me continuar a ler os teus caminhos
Ser leitura obrigatória do seu Id
Você que é minha idêntica idade
Mas que não passou de uma estéril idade
Sincretismo emancipado do meu ser
Ressonância que oscila em minha melodia
Deixa-me,pois, estar ao menos ao teu pé
Nem que seja no calo do teu calcanhar...
Pois sinto-me como uma Vênus manca
Vênus coxa, quase muda
Vestígio de um lindo amanhecer
Dai-me ao menos tua face para eu beijar
E dar-te-ei a minha para bater
Porque o bem que se quis não é mais o querido
Não passou de uma mentira fugaz
Escondida por detrás de tantos ais
Lembranças foram apagadas
Promessas esquecidas
Palavras voltadas atrás
Somos, portanto, apenas sombra desta alma que nos fala e cala.
E quando esta sombra desaparecer com o sinuoso vento,
Esta penumbra de alma
Procurará uma outra morada
Para nublar e entardecer
Meus sonhos e planos se dissolverão com o corrosivo tempo
Quando tua imagem e voz não mais me causar tamanha dor
Não te esqueças de que somos aroma indefinível da vida
E que vez ou outra fingimos saber da arte de a®mar pra batalha do amor vencer.
(Mamafrei)

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Beija-flor



Olhar enigmático, sorriso sempre indecifrável...
Face em retângulo, mas onde está sua outra metade
A outra que podemos ver em apenas curtos instantes?
Rosa vermelha a tocar os finos lábios do dia
A velar somente a dor, a dor de ter que beijar mais um dia
Sem a sua outra face, a bandida... a escolhida
Que se faz noite obscura, velada,
Selada ao toque suave da rubra Rosa
Que entala, enfada, não fala, enfastia
Emudece com sua púrpura hemorragia,
E faz velar o olhar taciturno em agonia.
Quão misterioso é esse beijar a flor
Sentindo aroma da noite fria.
Quão embriagante é o perfume do amor
Que se fez flor e rosa num desconcertante dia.
(Mamafrei)

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

A Liberdade é azul




Abro as asas desta liberta idade
Liberto a idade que existe em mim
Liberto-me desta calamidade
E já não sou eu quem sai de mim.

Iço vôo e procuro outro cativeiro
Ânsias de viver numa latência sem fim.
Liberto-me deste corpo estrangeiro
Não sou eu, mas outro que fala por mim.

Pairo sobre as nuvens deste mistério
Exalo aroma sério de um jasmim
Estou inserta neste céu etéreo
Procurando afinal, a causa do que jaz em mim.

(Mamafrei)


O (Re)nascimento de todas as Vênus




Sai desta concha
Que te aprisiona
Nasce da espuma,
Nada! Voa! Nua
Flutua feito pluma
Ávida, sedenta
Bianca, branca
Igual lua a encantar
Desejos de um dúbio olhar
A enfeitiçar inocentes cordeiros
Braços, cabelos, tornozelos...
Seduzindo todo o pensar
Escondendo o peso
E a transparência que
Sua natureza levemente
Se dispõe a desvelar
Não temas o Sangue alaranjado
Vermelho e quente
De seus cabelos
De seus desejos
Igual lavas de um vulcão
Que corre de cima pra baixo
Ao vento procurando direção
Sede assim também da terra
E não somente do m(ar)
Sede raiz a penetrar
Nesta terra que nenhum outro
Ousou penetrar
Deixa-me te alcançar
Cavar os segredos teus
Renasço de cada mistério
Que transborda do
Enigmático, jocoso
Sorriso e olhar seu.

(Mamafrei)