terça-feira, 28 de outubro de 2008

De Aço e de Flores


Sou uma mulher
De aço e de flores
Vivo a padecer
De desamores
Em minha vida
É constante
Os dissabores;
Em meus sonhos
Há tantos enganos,
Fatídicos horrores...
Mas nem por isso
Desisto de sonhar;
Em minha vida
Há mais aço do que flores
Há mais ranço que sabores
Há mais saudade que presença
Mas não desistirei jamais de amar.
Ah se todo aço tivesse aroma de flores...
Se todas as flores fossem fortes, persistentes
E roxas como o odor e o gosto das dores...
Se fossemos flexíveis para nos envergar
Se fossemos pré-destinados a nos amar...
De aço faríamos o nosso amor
Da delicadeza das flores
Fá-lo-íamos sustentar.

(Mamafrei)

O dilatar da pupila


Poeticamente
as janelas de tua alma
abrem-se para mim.
Eis um convite
para que deixemos de mentir.

Profundamente
delas saem raios de verdade;
brilhos eternos que mexem
com toda vaidade,
esperança de se reconhecer em mim.

Maré alta
lua e voz baixa
Olhar crescente, cheio e exigente
Olhar de loba
Pensamentos que serpenteiam
deixam seca a boca.

Instantaneamente
Um olhar denuncia
Entrega-se
E faz se entregar

Luz, câmera, ação!
entorpecentes de uma paixão.
Doutor, oftalmologista
liquido a dilatar meu coração
Olhares penetrantes
denotando extrema sensação...

(Mamafrei)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Mudança iminente


Pronto!
Agora já podes me odiar
Estou à sombra de um outro
Decidida a me ocultar

Não és mais meu objeto de estudo a finco
Sou agora ânsia de outros olhos
Desejo de outras mãos e braços a me tocar

Não respiro mais o mesmo ar que tu respiras
Não quero mais respirar
Nem suspiro a mesma ânsia que te devora
Não quero mais tragar o ar

Era mesmo isso que querias?
Exaurir-me do tempo que compunha tua memória,
Excluir-me da luz do dia, da tua vida?

Meus pensamentos pertencem a outro neste momento
Meus cuidados, gotos e entalos
Só poderei da-los com o tempo

E a poesia?
A poesia que tanto desenfastiou teus dias
Pede agora novo arrego
Pede agora pra sair
Com o sopro do vento
E preencher um novo cativeiro
Que necessita ser manchado
Com ácida nódoa
Que não se apaga com o tempo.
(Mamafrei)

Raios e trovoes...flores Rosas e espinhos.


Mediante tantas incertezas
Só sinto setas insertas
Cravadas em minha cegueira

Que gagueja
Que fraqueja
E rasteja

E a doce ânsia me anula
Me devora
Me engasga
Me engole
Me enturva

Não sei mais o teu motivo
Objeto fino de desilusão
Não sei mais por que me iludo
Pra chegar ao cerne do teu coração

Basta!
Peço demissão.
Que patrão mais malcriado,
Amuado
Que cliente exigente,
Chato
Quero um doutor em solução.
(Mamafrei)


domingo, 19 de outubro de 2008

Sou ...apenas Sou!

Sou como uma fruta
Que é amadurecida
Pouco a pouco
Ao soar de uma
Lenta hora.
Encruada com os resquícios da noite
Ácida como a efervescência de um longo dia
E doce como o entremez de uma vida.

Sou como uma Rosa entre agudos espinhos
Delicadamente me vejo sorrindo
E bailando com o uivo do vento
Despetalando caminhos
Brincando de ser mamulengo
Tentando enganar o impiedoso tempo.

(Mamafrei)

sábado, 11 de outubro de 2008

¼ da Vênus

Em meu quarto
Não há mais janelas
Mas o vento insiste em sobrar pela fechadura
Que agora faz o papel delas

Nele há agora duas camas
Mas apenas uma vazia;
Um guarda-roupa com portas lascadas
Roupas e panos velhos em desarmonia

No alto,
Uma telha de vidro
Permite-me ver
Toda noite
A Luz da Noite
E todo dia
A Luz do Dia

Nas paredes,
Tornos enferrujados;
Traças em seus casulos.
Aranhas tecendo muros

No chão,
Pares de chinelos gastos
Botas,
Carrinhos e
Estilhaços;
Marcas de passos seguros
Necessitando pisar em outros mundos.
(mamafrei)

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Marcela

Ensaios... esboços...

De Psique à Vênus...

De Vênus à Psique!


Mar e cela
Mar ia quase sendo sem ela
Mas o umbigo fora extirpado dela
Cortado naquele exato momento
Guardado em uma cela
À força, sem demora, sem ela


Mar e cela
Os dois querendo
Ser eu por um único momento
Sopro o vento com meus tormentos
Arranho o tempo com minha memória,
Só por isso me convenço.

Mar e cela
Vivo querendo saber
Qual é o que mais amarela
Irá amar ela, amar ela ia.
Guardar e libertar
Tocar os finos lábios do dia

Mar

Revolto...
Ondas que embriagam
E procuram sugar meu ver
Doces desejos que o sol doura.

Voraz...
Idas e vindas do meu ser
Esta sou eu, apenas querendo
Mar e cela ser
Eu como jamais em outrora.

Sedutor...
Um, liberdade ilusória
Outra, prisão libertadora
Que me esfera e está
Sempre à minha espera

Cela

Ser
Má Cela, cativeiro
De um amor só meu
Estupidamente eu
Ó vida que me desmantela.

Cancela
Porteiras entreabertas
Imagética do ser eu
Ao fugir pelas janelas
Dos olhos teus.

Prisão
Solidão diante da multidão
Execução do meu eu plural
Indo ao encontro da redenção
Escondida em algum curral

Mar e cela
Selando feridas
Doídas do meu eu
Martelando palavras
Transformadas em nós
Desatados e amarrados em vós.

(Mamafrei)







terça-feira, 7 de outubro de 2008

Oscilações do Mar...

Já passou?
- Ainda não passou...
Quando vai passar?
Já devia ter passado...
Ainda amo.
- Nunca deixarei de amar.
E agora?
- Agora...
Quando,
Onde,
Que horas,
Não importa!
Quando o amor não mais tiver portas
Cancelas a nos cancelar
Quando esse amor criar asas
Nem mesmo o céu será sua estrada
Viverá sendo impulsionado pra cima
Erguido a cada degrau de uma escada
Já criou raízes em seu caminho de terra
E por isso, precisa expandir-se no universo de etérrnia.
Necessita andar sozinho,
Segurado à mão
Necessita de cuidados,
Caricias
Necessita de verdades,
Quiçá malícias...
Mas exige que seja de coração.
(Mamafrei)

Pardos ais

Pobres pardais,
Passarinhos.
Tão discriminados
Enxotados, bichinhos...
Mas são eles que todos os dias
Cantam em nossos quintais.
No fio de alta tensão
Um por um
Forma um arranjo descomunal
Verdadeiras notas musicais
Que se fossemos levar a serio
Causariam-nos tamanha comoção.
Pardais,
Ordinários passarinhos
Que enfeitam nossas árvores
Despertam nossos dias com seus gritinhos
E mais uma vez com sua farra
Anunciam mais um anoitecer
Ah pardais...
O diminutivo de todos os Passarinhos
Queria pelo menos um dia
Ser como você
Ter ao menos um ninho.
(Mamafrei)

Sequiosa súplica ( À doce Ceci...)

Chove meu sertão,
Chove!
Sei que precisas desaguar
Umedece essa terra árida
Que peleja um novo tempo anunciar.

Chove em meu terreiro,
Chove!
Faz germinar o meu quintal
Lança fertilidade o tempo inteiro
Tira-me desse tempo descomunal.

Chove doce amiga
Chove!
Água límpida,
Borra o chão da hipocrisia
Condena qualquer um que retalia
Desmereça a solidão.

Chove ser tão doído
Chove!
Deságua, transborda
Corre pro mar etéreo
Das infinitas paixões...

Chove,
Ouve minha súplica!
...
O raio feriu a nuvem
E o céu pôs-se a chorar
O trovão estalou meus tímpanos
Meu triste eu ainda ousa falar:
Uma criança que acaba de traquinar
Cansou...
Suspira: ufa!
O amor por mim passou.
O amor por mim vive a passar...
(Mamafrei)

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Riso torto da lua


Seco ao vento...
Ao tempo.
Esganiço!
Afogo-me em meus solitários sentidos
Não tenho por quem gritar
Só me resta silenciar...
Por isso mordo e arranho o tempo!
O amor que ora fora cura
É-me veneno agora,
Nódoa crua da lua.
Que toda noite me desnuda
E morro a cada lembrança
Minuto que compõe a hora
Que me enlaça e me apavora.

(Mamafrei)

Sob o olhar da Lua

Artista plástica: Maria dos Anjos
À luz de algum dia
Ainda hei de aprender
A degustar o vinho
Das volúpias tortas;
A dançar conforme a música
Das lentas horas.
Crescerei junto à lua crescente
E preencher-me-ei de amor,
Só de amor...
Jamais minguarei
Ou pedirei de volta o que de agrado dei.
Renovar-me-ei a cada soar
De uma esperada hora.
Serei reminiscências de tua memória
A corroer todo o teu ser
Serei o que mais te apavora.
Porque perdi-me nos cuidados teus
Adormeci nas ternuras tuas
E hoje não passo de uma branca
E límpida lacuna
Diante do olhar penetrante da lua.
(Mamafrei)