sábado, 15 de agosto de 2020

Poema para Ravi

 

Menino na janela


Ao olhar através da janela,
o menino Ravi depara-se com o seu espelho,
o irmão-sol.
Seus pés não alcançam o infinito, ainda; suas mãos oscilam entre o aqui e o agora.
Sua mãe,
a natureza,
mira sua astúcia e o fala loquazmente:
Vem,
Impera,
que tua sina é tão bela
quanto à mais doce de todas as quimeras!
E, assim como o sol, nasce e cresce um menino-poema:
repleto de significados,
lacunas,
e dilemas
- existir ou não...
esta não é mais a questão.

Mamafrei 

Março de 2020

Caixa de Pandora

Há pouco tempo tomei consciência da mulher que sou, 

da mulher que me tornei
e da mulher que ainda está por vir.

Gerações de gigantes mulheres percorreram e ainda percorrem meus pensamentos e minhas ações .
O que será que elas esperam de mim?

Vez por outra,
procuro arrego em seus ensinamentos,
em suas vivências e experiencias;
procuro colo em seus afetos
e em suas consolações,
pois tenho consciência de suas lutas,
sou resultado de suas glórias,
de seus turbilhoes de emoções.

Fui feto, bebê, criança e menina;
fui adolescente, jovem e pasmem:
ser adulta jamais me imaginaria.

Hoje, somente hoje,
olho-me através do espelho
da íris do meu olhar
e percebo o quanto a maturidade
me fez e me faz tão bem.

Porque amo meu corpo e minha liberta mente;
porque amo minhas luzes do tempo; minhas leituras do mundo e de determinadas pessoas.

Porque amo ser mulher, apesar de tantos pesares.
Porque amo minhas letras,
minhas palavras,
minha fé e minha boa vontade.

Sou mulher e, por isso,
sou assim:
caixa de Pandora,
Eu dona de mim.

Metade?
Jamais!
Mulher inteira
e um pouco mais.

Mamafrei

Maio de 2020

 

Deixem que as flores de maio florescam!


Parece-me,
há mais de dois meses,
que é feio sorrir;
que é indigno sentir-se bem e esperançoso diante de uma pandemia mundial.
De fato.
Narciso acha feio tudo que não seja espelho.
Mas,
o que somos nós senão espelhos da vida?
Narciso também precisa encontrar o belo em um extraordinário domingo de maio, cujas flores,
num ordinário canteiro de uma rua qualquer, insistem em florir.

Mamafrei

Dica de Leitura I - 10 de julho de 2020

 

A minha dica de leitura de hoje é o livro infanto-juvenil UMA PROFESSORA MUITO MALUQUINHA, do escritor brasileiro Ziraldo( criador de O Menino Maluquinho, lembram?). " Uma professora muito maluquinha" é um livro que toda professora e todo aluno deveriam ter a curiosidade de ler um dia. É uma obra atemporal, repleta de aventura( sim, porque aprender pode ser uma aventura no mundo do conhecimento), de magia e de imaginação( porque o enredo nos faz sonhar com uma educação empática, amorosa e caleidoscópica); é um tipo de livro que se lê em apenas uma sentada e que, ao final, você fica se perguntando: por que tinha que acabar?! A primeira vez que li "Uma professora muito maluquinha" estava na faculadade, perto de concluir o curso de Letras e creio que a reflexão que tal leitura me proporcionou foi um divisor de águas na minha missão futura enquanto docente e no juramento que eu estava prestes a fazer no dia da minha formatura: tenho que ser, eu preciso ser em algum momento de minha carreira docente uma professora muito maluquinha para algum aluno meu. E, para entender o que estou tentando dizer, só mesmo lendo o livro. Quem já foi aluno meu lembrará da menção que faço a esse livro sempre nos primeiros dias de aula. É que sempre, ou quase sempre, inicio meu primeiro contato com meus alunos lançando um desafio. Tal desafio consiste em decodificar um código secreto. Esse código está presente no livro em questão, mas a mensagem é sempre renovada. Ora pode ser em português, ora(pra desespero dos alunos) Também pode vir em inglês. É lindo e encantador observa-los indo em busca do conhecimento e quando conseguem juntar uma letra com outra, formar sílabas, palavras e frases...EUREKA! É devolvido a eles aquela mesma sensação que um dia tiveram ao conseguirem ler a sua primeira palavra! Bem , o livro " Uma professora muito maluquinha " é isso e um pouquinho mais. Ele é um dos meus xodozinhos literários, quase que uma bíblia da minha profissão. Sempre que me encontro desestimulada, desanimada, sem ânimo para ser "maluquinha-beleza" retomo tal leitura e me reabasteço de delicadeza, afeto e humildade. Finalizo, pois, essa minha confissão de amor por tal obra literária com um fragmento importante da voz dessa professora que tanto me inspirou e me inspira: " O homem nasce com visão, audição, olfato, tato e gustação. Mas não nasce completo. Falta a ele a capacidade de ler e escrever como quem fala e escuta. É a professora que - como um Deus - acrescenta ao homem este sentido que o completa!".

Professora Maria Marcela Freire. Graduada em Letras - UFRN - ( Língua Portiguesa/ Língua Inglesa e suas respectivas Literaturas) e Especialista em Literatura e Ensino - IFRN/ Historia e Cultura Africana e Afro-brasileira - UFRN.

Texto que escrevi em 22 de setembro de 2019 para o blog da APOESC e para a página do Jornal Potiguar Notícias

 

Ler ou não ler: eis a questão


GLO-BO. Essa foi a minha primeira leitura do mundo estampada em uma tampa de uma panela. Havia acabado de pegá-la em minhas mãos a fim de enxugá-la e, de repente, como uma abrir e fechar de olhos, uma das descobertas mais fantástica do ser humano se instaurou naquele instante, naquele click em que meu cérebro conseguiu decodificar, pela primeira vez, o código da leitura e acendeu a luz do conhecimento por meio das letras.
O que fazer depois de tal descoberta, coube a mim e caberá a todo e qualquer leitor decidir continuar ou não decodificando não apenas o código da língua portuguesa, mas também de outras línguas, bem como e, essencialmente, o código de nossas literaturas, o código das mais diversas leituras que o mundo, de forma globalizada, pode nos oferecer por meio das palavras e de imagens.
Portanto, ler ou não ler não é apenas uma questão de empatia com as letras, com as palavras, imagens e situações que nos rodeiam. Diria, particularmente, que é também uma questão de vida ou de morte. De vida porque através da leitura, renovo-me enquanto ser diferenciado, reinstaurando e edificando minha humanidade e dignidade, ressignificando a minha vida e a de outrem; de morte porque não conhecendo a mim nem ao outro por meio da leitura, cairia no meu próprio esquecimento, seria acometida pela cegueira branca brilhantemente revelada por José Saramago em “Ensaios sobre a cegueira”. E, a fim de evitar tal tragédia em minha vida, resolvo compartilhar com você, caro leitor deste blog, o que fiz da minha vida após o descobrimento da minha primeira palavra lida.
Durante a minha infância, nunca tive acesso a livros, nem mesmo a revistas em quadrinhos. No entanto, inconscientemente, sabia o poder da magia das palavras. Ouvia meus irmãos mais velhos lerem e relerem, enquanto faziam as tarefas de casa, o poema de Cecília Meireles “A chácara do Chico Bolacha”. Na época, antiga 3ª série, o que me marcou foi a história do “Sonho de Pisca-Pisca” – D ´Olim Marote, além do poema “O  Menino Azul” – Cecília Meireles.  Esses primeiros textos que tive acesso estavam contidos em  livros didáticos. Por isso destaco a importância da escolha e do uso destes nas escolas, uma vez que o livro didático é, na maioria das vezes, o único livro/suporte textual que a maior parte dos estudantes têm acesso, pelo menos no início de sua vida estudantil. De modo que o livro, sendo um bem cultural, sempre foi e ainda é um “objeto de luxo”, usado por poucos, dado o seu alto valor aquisitivo.
Sempre fui de origem humilde. Meus pais foram agricultores e depois que saíram do campo e foram morar na cidade, passaram a construir uma família baseada em valores religiosos e sociais. Na época em que comecei meus estudos, meus pais eram semianalfabetos. Entretanto, há uma curiosidade quanto a este aspecto. Meu pai, apesar de quase não ler, passou a comprar livros àqueles “vendedores de porta”: era dicionário, enciclopédias, livros científicos e literatura brasileira e internacional. Minha irmã mais velha se esbaldava no mundo da leitura com tais clássicos. Eu ainda era uma leitora em potencial e continuei sendo-a até entrar na faculdade.
Na época da adolescência, dou destaque a algumas obras que, anos mais tarde teriam maior significado para mim se as relesse: “O Seminarista’, “As Pupilas do Senhor Reitor”, “O vermelho e o negro”, “O Guarani”, “O Quinze”...
Na faculdade, o mundo da leitura, por fim, tornou-se amplo e ilimitado. Conheci os cânones, os clássicos e até mesmo a literatura de massa, bem como textos do Padre Fábio de Melo.
Depois da faculdade passei a ter autonomia quanto às minhas leituras. Tive a curiosidade de ler alguns textos bíblicos e fui seduzida pelo “Cântico dos Cânticos”, bem como pelos textos erótico-poéticos de mulheres potiguares, como: Marize Castro, Diva Cunha, Ana de Santana e Maria Maria Gomes.
O feminismo de Simone de Beauvoir e de Frida Kahlo me encantou. A potência reveladora da falta de humanidade dos homens retratada nos textos de Maria Carolina de Jesus e de Stela do Patrocínio deixou-me sem ar. Mas, antes disso, fui fisgada por Saint-Exupéry em seu livro: “O Pequeno Príncipe” e por “Uma professora muito maluquinha” de Ziraldo. Esses dois últimos ocupam um lugar especial em minhas memórias de leitura, pois são os que mais releio e faço releituras deles em meu dia a dia como Ser humano e como Ser Professora, não exatamente nesta ordem nem mesmo cogitando a possibilidade de haver uma desvinculação entre Ser humano e Ser Professora.
Sei que decepcionei o público leitor desta página ao não mencionar Dostoievski, Kafka, Dante ou Homero, entre outros. Não os li, mas conheci suas contribuições para o mundo a partir de outras leituras também tão significantes quanto. Caro leitor, se confissões lhe alegram, confesso que bebi da fonte de outros grandes: Fernando Pessoa, Shakespeare, Ovídio, Nietszche, Walt Whithman, , Khalil Gilbran, André Gide...e, nesse meio tempo ainda me encantei com Pablo Neruda, Octávio Paz, Eduardo Galeano, Florbela Espanca, Mia Couto, Conceição Evaristo, Adélia Prado, Odete Semedo, etc. Por fim, ainda há muitos desejos em realizar diversas leituras, como: “Cem anos de solidão” e “ O amor em tempos de guerra”, de Gabriel Garcia Marquez.
Entretanto, de nada valeriam tais leituras se antes, não tivesse tido o prazer de ser apresentada, pelos meus grandes mestres da faculdade, aos cânones nacionais: Machado de Assis,  Aluísio Azevedo, Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana, Manoel de Barros, Clarice Lispector, bem como aos “cantores” da minha terra potiguar: José Bezerra Gomes, Luís Carlos Guimarães, Zila Mamede, Câmara Cascudo, Diógenes da Cunha Lima, Iara Maria Carvalho, Antônio Francisco , entre tantos outros já mencionados e que não foram por motivo de dispersão.
 Entre autores e obras, muitas reticências e muitas aprendizagens. Tornei-me além de leitora - de consumidora de tal bem cultural -, pesquisadora de alguns temas, poetisa, declamadora de versos e professora. Por onde passo, meus alunos conhecem essa minha paixão pelas palavras e sabem que ler ou não ler também pode ser uma questão política mas, antes de tudo,  é uma questão de sobrevivência.

In: 


Reconhecimento poético VI

 

Hoje, 15 de agosto de 2020, tive a grata surpresa de um poema meu intitulado “Os brutos” ( homenagem que fiz a José Bezerra Gomes) ter sido publicado na 5ª edição da revista “O galo”. Coisa linda de se ver. Confiram o poema acima  e, abaixo, o link de acesso a ele e a todo maravilhoso material publicado nesta revista que vem fazendo história no RN.

www.cultura.rn.gov.br

http://www.cultura.rn.gov.br/Conteudo.asp?TRAN=ITEM&TARG=237789&ACT=&PAGE=&PARM=&LBL=NOT%CDCIA



Reconhecimento poético V

 

Em 14 de março de 2019 um poema meu, VIVENDO A PERIGO, foi publicado na Folha Poética. Grata aos idealizadores desta revista!