domingo, 17 de agosto de 2008

A outra face



És meu espelho, minha poesia distorcida
O poema visual que jamais decifrarei
Minha outra face, minha amiga
Desejo, violência e ternurinha
Turbulência que me tranqüiliza.

És minha alma gêmea
Somos duas frutas antes do tempo colhidas
Esperando desesperadamente o amadurecimento
De nossas intrigantes e fatídicas vidas.
Seres querendo ser amadas, filhas!

És minha poesia, a mais escorregadia
O verso crepuscular de um amanhecer
Somos irmãs, primas, mas não tias
Esta sou eu sozinha e adoro o ser
Quando anoitece e ainda consigo dizer bom dia!

És sempre a expansão de todo o meu ser
Que me consome e some com meu entristecer
Somos. De frente pra trás e de trás pra frente
Gente querendo eternamente ser
Envolvida em vida, envolvente no ente
Notada, ouvida, experimentada, sentida

És o labirinto que insisto em percorrer
O mosaico que falta a parte de mim em você
Esfinge que me olha e devora
Mastiga, rumina e regurgita
Mesmo quando me manda ir embora querendo dizer: fica!

És o verbo em ação, em constante mutação
Ferida a supurar no interior do meu peito
Somos esperança numa fresta do tempo
Fenda aberta ao calor do momento
Gota a escorrer na janela
A confundir-se com lágrima de uma vela.

És o destino a encarar-me bem de perto
Gosto suave de redenção
Somos a vida vivida em um duplo risco
Com medo da eterna escuridão
Mudança de tempo, olho do furacão

(Mamafrei)

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