Do direito à uva-passa e a outras coisas mais
Maria Marcela
Freire
Dezembro de 2020. As pessoas,
entre tantas outras coisas, se ocupam, diante de uma pandemia mundial, em
fazerem memes desdenhosos acerca da inocente e inculpavel uva-passa. Além de
ridicularizarem o valioso significado da versão brasilera da música: "So this
is christmas"(Então é natal).
Como se não bastasse, hoje,
véspera de natal, elas resolveram limitar os filmes com esta temática na sessão
da tarde, com medo de correrem o risco de serem acometidos pela temível
pieguice natalina crônica.
Pois bem. Meu sobrinho de três
anos tem sido poesia nesta vida tao ainda severinha pelo fato de ainda, talvez,
nao ter sido infectado pelo vírus do desdém cotidiano. Para ele, tudo ainda soa
como novidade e, por isso, dou-lhe o direito de não gostar de uva-passa , de
não saber ou querer cantar " Então é natal " e/ou
até mesmo de parar um instante para assistir a filmes de natal.
Vez em quando ele, em seus
ricos processos imaginativos, me chama de " pofessora" e finge
ser meu minúsculo quarto, uma sala escolar. Quando aceito o título Honório e o
incluo na estória confabulada, ele diz inocentemente: nao sou aluno, sou Mateus
Henrique!
Ele
está certo. Aluno, etimologicamente falando diz-se ser alguém sem luz e esta,
Mateus tem de sobra.
Percebi
ontem que, assim como eu, Mateus tem certo apreço por janelas. Quis que eu
retirasse uma que estava do canto da parede, pronta para ser posta numa casa
nova, só para que ele a observasse a exemplo do que ele faz com qualquer coisa
que, para ele ainda é desconhecida.
Há
poucas horas do natal, Mateus me fez ficar revoltada. Quero sim o direito à
gostar de uva-passa, de cantarolar, sem me sentir ridícula " Então é
natal" e de assistir a filmes natalinos piegas durante o mês
natalino e até mesmo poder estende-los a outros períodos do ano, sim!
Mateus
ainda não sabe, se eu tivesse a capacidade de fazê-lo entender ainda
agora...que quando a gente cresce, fica chato pra danado! A rotina cai sobre
nossos olhos como uma espécie de venda e sobre nossos ouvidos, em formato de fones
que só nos fazem ouvir a mesma música e bem baixa. Além disso, nos amordaçamos
(in)voluntariamente e deixamos de dizer/externar principalmente aquilo
que (não) nos agrada.
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