DA
ARTE DE ESCREVER
Maria
Marcela Freire
Escrever,
assim como ler, é ato solitário. Entretanto, por vezes, assim como podemos
compartilhar leituras e torna-las um ato coletivo, colaborativo, de comunhão,
também podemos fazer da escrita, exercício íntimo compartilhável, desde que
exista, em cena, outro leitor além de mim, mero escrevente de entidades plurais
que constituem o meu eu interior.
Escrever
dói. Ler o outro também dói porque nunca sabemos, de fato, a quem iremos
atingir em cheio, feito flecha no alvo, a partir das nossas escritas, quer
sejam elas poéticas ou não.
Sendo
assim, escrever é um tiro no escuro; flecha lançada no alvo das subjetividades
humanas; ato repleto de intenções, mesmo que no subsolo de nossos pensamentos
mais obscuros. O alvo, o coração e a mente humana, simbolizados assim em emoção
e razão respectivamente. Ele (o alvo), muitas vezes, pode parecer estanque,
estático, mas é mutável de acordo com a recepção e percepção do leitor em
vários tempos, ao longo da história, e momentos/instantes da sua vida. Neste
sentido, escrever é consagrar o instante.
Escrever
é sinônimo de liberdade e de libertação. É puro ato de rebeldia, resistência e
honestidade com os seus próprios pensamentos e sentimentos. Afinal, se escreve
por quê? Para quê? Para quem? Para um
outro ou para mim mesmo?
Escreve-se
para um eu inevitavelmente coletivo; para falar por si mesmo, ressoando no
outro;
Escreve-se
para aliviar nossas inquietações, nossas angústias, nossas dúvidas, nossas
impressões e imprecisões do mundo, do outro e de nós mesmos;
Escreve-se
para exercitar a nossa humanidade e nossas experimentações;
Escreve-se
por identificação com ser humano, com a natureza e os animais;
Escreve-se
para imprimir nossa identidade, deixar a nossa marca registrada no mundo, de
maneira geral, ou no mundo particular de alguém;
Escreve-se,
portanto, para nos salvar de nós mesmos!
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