Professora Maria Marcela Freire
Há exatamente 15 anos escrevei uma das
cartas mais sinceras e repletas de emoção que já escrevi em toda a minha vida,
e tal carta fora direcionada a alguns professores da época em que estudei no
Tristão de Barros, meu último período enquanto estudante convencional. Nesta
carta continha toda a minha admiração e gratidão por esse ser Divino que
continuo a admirar e a agradecer por sua existência: o Professor.
O motivo deste texto hoje é replicar
tais sentimentos que, desde que me entendi por gente, me inquietam e me tornam
um pouco mais humana e evoluída: o sentimento de admiração, orgulho e gratidão
que invadem meu ser, toda vez que me pego refletindo: Puxa vida, tornei-me
professora!
Primeiro de tudo, preciso fazer um breve
histórico de como tudo aconteceu. Sim, tornar-se e ser professora(or) é um
acontecimento na vida de uma pessoa tão marcante quanto descobrir-se ser quem
é. É claro que uma função/profissão não define quem você é, mas a maneira como
você cumpre tal função/profissão, sim. E é por meio da maneira como você abraça
tal profissão que é revelado, em sua lida diária, o porquê de você ter nascido
e ter sido chamado para isso.
Se você me perguntasse se desde sempre
eu quis ser professora, diria que não. No entanto, sinto que algo (nos
bastidores da vida) já estava sendo preparado para mim. Lembro-me que, quando
criança, tive de brincar de escolinha e, adivinha só quem era a professora?
Pois é.
Na adolescência estreei como professora
particular de duas ou três crianças e uma delas me chamou a atenção pelo fato
de sempre me perguntar: “Tia, quando é que vai nevar?”. Pela primeira vez,
enquanto professora, não pude dar uma resposta a um aluno meu e isso foi
marcante por dois motivos: pela inocência da criança em querer nevar em pleno Seridó
e pela minha incapacidade de não poder dar-lhe uma resposta satisfatória, uma
vez que ela sempre voltava com a mesma pergunta, e não há nada mais angustiante
e inquietante para um professor do que não saber dar uma resposta satisfatória
para seu aluno.
E, pensando nisso e sobre todas as possíveis
angústias de um professor, depois de um pouco mais de 20 anos, resolvi escrever
também esse texto para essa minha primeira aluna na tentativa de dar mais uma
resposta à sua inocente e lírica pergunta:
Querida Mayara, não sei qual é o seu
paradeiro hoje. Talvez já esteja casada, tenha filho(s), esteja formada e até
mesmo já atuando em sua área. Gostaria que você soubesse que sinto que estava
lhe devendo isso:
Nevará
aqui em Currais Novos
Quando
nossos olhos deixarem de ser cartesianos e enxergamos tudo apenas no preto e no
branco e lembrarmos o colorido que a vida é;
Quando
pararmos um instante para sonhar e imaginar que tudo é possível, cá, dentro de
nós. Basta fechar os olhos por um instante, respirar e confiar;
Quando
nunca deixar de ser uma noite de natal em nossos lares ou dia de ser feliz em
nossos corações;
Quando
invernar em nossos sertões e, assim, tornarem fecundos e frutíferos os nossos caminhosonhos
e desejos mais secretos;
Quando
outros professores tiverem a sorte e a honra de terem, pela primeira vez, uma
poética pergunta sem resposta, vinda de uma criança adorável como você.
A todos os meus alunos, a todos os meus
professores, a todos os meus colegas professores, saúdo neste dia com o
sentimento de gratidão que não cabe em meu coração.
Obrigada por tudo e...a luta continua!
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