quinta-feira, 15 de outubro de 2020

À professora que me tornei ou: o primeiro aluno a gente nunca esquece



Professora Maria Marcela Freire

 

Há exatamente 15 anos escrevei uma das cartas mais sinceras e repletas de emoção que já escrevi em toda a minha vida, e tal carta fora direcionada a alguns professores da época em que estudei no Tristão de Barros, meu último período enquanto estudante convencional. Nesta carta continha toda a minha admiração e gratidão por esse ser Divino que continuo a admirar e a agradecer por sua existência: o Professor.

O motivo deste texto hoje é replicar tais sentimentos que, desde que me entendi por gente, me inquietam e me tornam um pouco mais humana e evoluída: o sentimento de admiração, orgulho e gratidão que invadem meu ser, toda vez que me pego refletindo: Puxa vida, tornei-me professora!  

Primeiro de tudo, preciso fazer um breve histórico de como tudo aconteceu. Sim, tornar-se e ser professora(or) é um acontecimento na vida de uma pessoa tão marcante quanto descobrir-se ser quem é. É claro que uma função/profissão não define quem você é, mas a maneira como você cumpre tal função/profissão, sim. E é por meio da maneira como você abraça tal profissão que é revelado, em sua lida diária, o porquê de você ter nascido e ter sido chamado para isso.

Se você me perguntasse se desde sempre eu quis ser professora, diria que não. No entanto, sinto que algo (nos bastidores da vida) já estava sendo preparado para mim. Lembro-me que, quando criança, tive de brincar de escolinha e, adivinha só quem era a professora? Pois é.

Na adolescência estreei como professora particular de duas ou três crianças e uma delas me chamou a atenção pelo fato de sempre me perguntar: “Tia, quando é que vai nevar?”. Pela primeira vez, enquanto professora, não pude dar uma resposta a um aluno meu e isso foi marcante por dois motivos: pela inocência da criança em querer nevar em pleno Seridó e pela minha incapacidade de não poder dar-lhe uma resposta satisfatória, uma vez que ela sempre voltava com a mesma pergunta, e não há nada mais angustiante e inquietante para um professor do que não saber dar uma resposta satisfatória para seu aluno.

E, pensando nisso e sobre todas as possíveis angústias de um professor, depois de um pouco mais de 20 anos, resolvi escrever também esse texto para essa minha primeira aluna na tentativa de dar mais uma resposta à sua inocente e lírica pergunta:

Querida Mayara, não sei qual é o seu paradeiro hoje. Talvez já esteja casada, tenha filho(s), esteja formada e até mesmo já atuando em sua área. Gostaria que você soubesse que sinto que estava lhe devendo isso:

Nevará aqui em Currais Novos

Quando nossos olhos deixarem de ser cartesianos e enxergamos tudo apenas no preto e no branco e lembrarmos o colorido que a vida é;

Quando pararmos um instante para sonhar e imaginar que tudo é possível, cá, dentro de nós. Basta fechar os olhos por um instante, respirar e confiar;

Quando nunca deixar de ser uma noite de natal em nossos lares ou dia de ser feliz em nossos corações;

Quando invernar em nossos sertões e, assim, tornarem fecundos e frutíferos os nossos caminhosonhos e desejos mais secretos;

Quando outros professores tiverem a sorte e a honra de terem, pela primeira vez, uma poética pergunta sem resposta, vinda de uma criança adorável como você.

 

A todos os meus alunos, a todos os meus professores, a todos os meus colegas professores, saúdo neste dia com o sentimento de gratidão que não cabe em meu coração.

Obrigada por tudo e...a luta continua!

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