Tu que és uma deusa sem nome,
sem raízes, sem lembranças
Sem forma, sem sentidos...
Dizes por aí que não sei quem és,
mas que sabes bem que sou.
Diz-me em segredo quem és ao pé do ouvido
que te mostrarei de fato do que capaz eu sou!
Pois assim te definirei:
Descascando-a, estimando-a.
Sentindo o aroma de terra remexida
a fertilizar alma feminina
que desabrocha em flor.
Desta maneira respondo ao teu clamor!
Chamar-te-ei pelo nome agora
pois neste momento
sinto-me estimulada,
fertilizada, provocada,
instigada, incitada;
foi-me inspirada a inquietante dor.
Fiquei tentada a descobrir-te,
desvelar-te, decifrar-te.
Tu, tu que me dizes não possuir nome
Roubarei, pois, o nome de uma deusa
E a batizarei com ar, água, terra e fogo
advindo de uma velha centelha
que conota amor,
porém denotando vez ou outra
desgosto de uma tímida flor.
Gaia, Geia ou Gê?
Divindade nascida do Caos
caos advindo das profundezas humanas.
Somente pessoas sensíveis hão de percebê-lo.
Perceberão tamanha artimanha.
Tão atávico, tão anárquico...
caos profundo
entre o ser, parecer e o querer ser.
Chamar-te-ia mãe terra,
Gaia se assim me permitisse
Mas tenho sido desafiada, argüida
e por isso, não me convenço
na primeira cena ser vencida.
Pensando bem,
a ti cabe o nome de deusa Hera,
deusa ciumenta, irônica e mordaz;
orgulhosa, obstinada e rixosa,
deusa excelsa, longe de ser fugaz.
A partir de então fazes parte
do grupo de magníficas deusas
que compõem a minha memória:
Psique, Diana e agora tu, Hera!
deusa da terra nascida, “torta”.
Mostra-me teus olhos, que sou mortal
Protege com a pena do teu pavão
o território que faz parte de mim imortal
Eu, Vênus(Afrodite), sua arquiinimiga,
Faço-me agora sua mais nova amiga.
Somemos nossas grandezas
Multipliquemos nossas,
tão nossas profundezas,
a estreiteza de nossos ciúmes sem fim;
dividamos nossas fatídicas belezas
Segredos, enigmas,
Labirintos do eu-outro
em ti e em mim.
(Mamafrei)